A captação de recursos está passando por uma transformação acelerada com a evolução da tecnologia.
O SXSW 2025, um dos maiores eventos de inovação do mundo, destacou que o futuro não é apenas sobre tecnologia, mas sobre como ela se conecta à criatividade e às relações humanas.
No terceiro setor, essa visão é essencial: captar recursos não se trata apenas de arrecadar dinheiro, mas de construir comunidades engajadas e sustentáveis.
Neste artigo, vamos explorar as principais tendências tecnológicas e como elas estão revolucionando a captação de recursos para organizações do terceiro setor.
1. A Inteligência Artificial como aliada na captação de recursos
A inteligência artificial (IA) entrou em uma nova fase. O SXSW 2025 destacou que os agentes autônomos de IA agora conseguem tomar decisões e executar tarefas sem intervenção humana. Isso abre um mundo de possibilidades para as organizações.
- Personalização de campanhas: Plataformas de IA analisam o comportamento dos doadores e sugerem abordagens mais eficazes.
- Chatbots inteligentes: Interfaces conversacionais estão substituindo formulários e e-mails, criando experiências de doação mais fluidas.
- Previsão de comportamento do doador: Algoritmos identificam padrões e prevêem quais apoiadores têm maior propensão a doar novamente.
Matriz RFM e Análise Cohort: aprofundando o uso dos dados
Para que a tomada de decisão seja realmente orientada por dados, é fundamental que as ONGs utilizem metodologias robustas, como a matriz RFM (Recência, Frequência e Valor Monetário) e a análise cohort.
Matriz RFM: Essa metodologia permite segmentar os doadores com base em seu comportamento, identificando quem doa com mais frequência, há quanto tempo e qual o valor médio das doações. Dessa forma, é possível personalizar campanhas para grupos específicos, melhorando a retenção e aumentando o LTV (Lifetime Value) dos doadores.
Análise Cohort: Em vez de olhar para dados gerais, essa técnica analisa o comportamento de grupos de doadores ao longo do tempo. Isso ajuda a entender padrões de retenção, avaliar o impacto de campanhas e prever tendências, permitindo ajustes estratégicos baseados em dados concretos.
Ao incorporar essas metodologias, as ONGs podem não apenas otimizar suas campanhas, mas também fortalecer o relacionamento com seus doadores, garantindo que a experiência deles seja cada vez mais relevante e personalizada.
2. Automação e inteligência de dados para captação
A automação na captação de recursos permite que organizações se tornem mais eficientes e estratégicas. Segundo Ian Beacraft, do SXSW 2025, “o prazo de validade das habilidades está encolhendo”.
A capacidade de aprender e adaptar-se rapidamente é essencial.
Automatização de e-mails e SMS: personalização e engajamento em escala
A comunicação com doadores não pode ser genérica.
Mensagens personalizadas aumentam significativamente a taxa de conversão, pois criam conexões mais próximas e relevantes com os apoiadores. Com ferramentas de automação, as organizações podem segmentar suas listas de contatos com base em comportamentos, interesses e histórico de doações.
- Segmentação inteligente: A tecnologia permite que as organizações enviem mensagens direcionadas para diferentes perfis de doadores, como novos apoiadores, recorrentes ou inativos. Um doador frequente pode receber um agradecimento especial e um convite para um programa de fidelização, enquanto um doador inativo pode ser impactado por uma campanha de reconquista.
- Mensagens no momento certo: O envio automatizado pode ser programado para momentos estratégicos, como datas comemorativas, aniversários dos doadores ou períodos de campanhas sazonais, aumentando a probabilidade de resposta. Ainda é possível automatizar mensagens atreladas às transações financeiras, por exemplo, próximo ao vencimento do boleto, erro de processamento no cartão de crédito, envio de mala direta, etc.
- Testes A/B para otimização: Também é possível experimentar diferentes abordagens em e-mails e SMS para identificar quais tipos de mensagens geram mais engajamento e conversões, ajustando continuamente sua estratégia.
A automação não apenas reduz o trabalho operacional, mas também garante que cada doador receba a comunicação certa, no momento certo, gerando mais engajamento e lealdade.
Análise preditiva: antecipando tendências para maximizar impacto
Com a integração da inteligência artificial (IA) e big data, as organizações têm acesso a uma enorme quantidade de informações que podem ser usadas para prever tendências e otimizar estratégias de captação de recursos.
A análise preditiva permite que organizações tomem decisões mais embasadas e alocam seus recursos de forma mais eficiente.
- Identificação de doadores potenciais: Algoritmos analisam padrões de comportamento e ajudam a prever quais apoiadores têm maior probabilidade de realizar novas doações ou aumentar seu valor médio contribuído.
- Otimização de campanhas: Com base em dados históricos, a IA pode sugerir quais tipos de campanhas tendem a ter maior impacto em determinados períodos ou com determinados públicos. Isso permite direcionar esforços para as ações mais eficazes.
- Redução de churn de doadores: A análise preditiva também pode identificar sinais de desengajamento, permitindo que a organização tome medidas preventivas, como enviar mensagens personalizadas ou oferecer incentivos para manter o relacionamento ativo.
Gestão de relacionamento: fidelização e retenção com CRMs inteligentes
A captação de recursos vai muito além da primeira doação. O verdadeiro desafio das organizações está na retenção de doadores e na construção de relacionamentos duradouros. Para isso, os sistemas de CRM (Customer Relationship Management) desempenham um papel fundamental.
- Registro de interações: CRMs inteligentes armazenam o histórico completo das interações dos doadores, permitindo que organizações acompanhem suas preferências, frequência de doação e nível de engajamento.
- Régua de relacionamento personalizada: Com base nos dados coletados, é possível criar uma jornada de comunicação personalizada, enviando conteúdos e mensagens que fazem sentido para cada perfil de doador.
- Automação de tarefas: CRMs modernos integram automações que agilizam processos como envio de recibos, lembretes de renovação de doações recorrentes e agradecimentos personalizados.
A tecnologia de CRM transforma a gestão de relacionamento em um processo estratégico, garantindo que cada doador se sinta valorizado e engajado com a causa.
3. A crise da solidão e a importância da conexão humana
O SXSW 2025 trouxe um dado alarmante: 1 em cada 4 pessoas se sente solitária. No terceiro setor, essa é uma oportunidade para fortalecer laços com os doadores.
Embora vivamos em um mundo hiperconectado, os dados apresentados por Kasley Killam são preocupantes.
A solidão, destacada já na abertura do festival, foi apontada como um dos maiores desafios sociais da década. Mais do que uma questão emocional, a saúde social tornou-se um fator estratégico para empresas, líderes e governos.
Em sua palestra, Esther Perel reforçou essa ideia ao afirmar: “A qualidade dos nossos relacionamentos define a qualidade da nossa vida.” Essa reflexão ecoou por diversas trilhas do evento, demonstrando como tecnologia, liderança e saúde mental estão profundamente interligadas.
As organizações precisam humanizar suas estratégias:
- Comunidades digitais: Criar espaços de troca e pertencimento entre doadores e beneficiários.
- Histórias autênticas: Mostrar o impacto real das doações por meio de narrativas envolventes.
- Eventos híbridos: Combinar experiências online e offline para engajar doadores.
4. O conhecimento virou commodity: como se destacar?
No SXSW 2025, Ian Beacraft afirmou que “a nova guerra será pela capacidade de aprender rápido”. Para o terceiro setor, isso significa adaptar-se constantemente e buscar inovação contínua.
Com 99% do conhecimento público já processado pelas grandes IAs, o verdadeiro diferencial passa a ser como cada pessoa ou organização codifica seu próprio conhecimento.
A era da informação abundante exige curadoria, personalização e inteligência estratégica. Mais do que acumular saberes, é essencial transformá-los em ação e impacto.
Empresas e organizações buscam profissionais que não apenas absorvem conhecimento, mas que aplicam e geram valor de forma ágil. Nesse contexto, surge a figura do Creative Generalist, um novo perfil profissional que combina especialização e visão ampla, aprendizado acelerado, criatividade e adaptabilidade para enfrentar desafios complexos.
No entanto, esse novo cenário não se restringe apenas aos indivíduos – ele também redefine o papel das lideranças. Como destacou Brené Brown, a essência da liderança continua sendo profundamente humana.
A IA pode otimizar processos e fornecer insights, mas não substituirá a empatia, a coragem e a capacidade de conexão genuína.
O líder do futuro precisará ser ambidestro. Como ressalta Amy Webb, além de desenvolver habilidades humanas como escuta ativa e presença, será indispensável ter fluência digital e domínio de tecnologias emergentes.
A liderança eficaz exigirá um equilíbrio entre sensibilidade e inovação, entre a intuição humana e a inteligência artificial. O desafio está lançado: aqueles que conseguirem unir esses dois mundos estarão mais preparados para transformar o futuro.
5. O marketing e a captação de recursos: dados, testes e cultura organizacional
Apesar da crescente digitalização, há um equívoco comum de que o marketing se baseia apenas em dados. Estudos científicos mostram que as associações de marca são construídas emocionalmente e que decisões de doação são guiadas por conexão e propósito, não apenas por números.
Entretanto, para que os dados tenham um papel positivo na captação de recursos, é essencial permitir testes e experimentação. Muitas organizações minam essa cultura de inovação devido à burocracia e ao controle excessivo na aprovação de campanhas.
Para ser realmente baseado em dados, é necessário aceitar a possibilidade do erro e fomentar um ambiente onde os times se sintam empolgados ao analisar resultados, e não com medo.
Outro ponto crucial é a busca pelo menor mercado viável: ao invés de tentar alcançar todos, o objetivo deve ser encontrar as pessoas que entendam e se apaixonem pelo propósito da organização.
Para muitos doadores, amar a sua ONG é uma forma de expressão pessoal – tornar-se parte do movimento que ela representa é uma maneira de afirmar quem são e no que acreditam.
6. A era da incerteza: navegando no desconhecido
Se há uma palavra que define o SXSW 2025, essa palavra é incerteza.
Em um mundo acelerado pela IA, pela crise climática e pelas mudanças sociais, a única certeza que temos é que tudo pode mudar a qualquer momento. Mas, como destacou a especialista Maggie Jackson em sua palestra Uncertainty: A Path to Flourishing (and Survival) in an Age of Flux, a incerteza não precisa ser temida – ela pode ser cultivada e usada a nosso favor.
Desde pequenos, aprendemos a buscar respostas rápidas. Líderes que dizem “eu não sei” são vistos com desconfiança.
Esperamos certezas instantâneas, seja de nossos pais, do Google ou do ChatGPT.
No entanto, como Amy Webb simbolizou ao pedir que a plateia sentasse em um cubo de madeira desconfortável, estamos constantemente convivendo com um incômodo sutil: um mundo que muda mais rápido do que conseguimos prever.

A questão é que, ao tentar eliminar a incerteza, muitas vezes acabamos limitando nosso potencial criativo. A inovação nasce do desconhecido.
O aprendizado real acontece quando aceitamos o “não saber” e experimentamos algo novo. Como propôs Maggie Jackson, podemos treinar essa habilidade em pequenas decisões do dia a dia – desde pedir um prato sem olhar a foto no Instagram até dar espaço para ideias mais autênticas e ousadas no mundo dos negócios.
No fim das contas, a incerteza não é um obstáculo. É o ambiente natural da criatividade, da liderança e do progresso. Em vez de esperar pelo momento perfeito, talvez o segredo seja abraçar o imprevisível e agir mesmo sem todas as respostas.
Afinal, só quando levantamos da cadeira, o cubo de madeira para de incomodar.
O futuro da captação de recursos é humano e tecnológico
Se há algo que o SXSW 2025 deixou claro, é que o futuro não será definido apenas pela tecnologia, mas pela forma como a utilizamos para fortalecer conexões e impulsionar mudanças.
Para organizações e captadores de recursos, essa é uma oportunidade única: integrar inovação sem perder a essência do relacionamento humano.
A eficiência operacional trazida pela automação e pela inteligência artificial deve andar lado a lado com o engajamento genuíno.
A experiência do doador precisa ser pensada com o mesmo cuidado que as marcas dedicam aos seus clientes, transformando cada interação em um passo para um vínculo mais forte e duradouro.
Mas nada disso acontece sem uma cultura organizacional que valorize o aprendizado constante. O mundo está em transformação acelerada e, nesse cenário, quem experimenta, testa e ajusta suas estratégias com agilidade sai na frente.
O futuro pertence a quem equilibra tecnologia e propósito, inovação e autenticidade, planejamento e adaptação. Para captadores de recursos e organizações, essa é a chave para seguir relevante, sustentável e, acima de tudo, impactando vidas.
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