Uma cultura de doação é essencial para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa, inclusiva e consciente. E ela está ligada a um conjunto de valores e atitudes que valorizam a generosidade e a responsabilidade social, incentivando as pessoas a contribuir para causas que beneficiem os outros e o mundo ao seu redor.
A cultura de doação é mais do que apenas doar dinheiro, é também compartilhar tempo, conhecimento e recursos para impactar positivamente comunidades e organizações sem fins lucrativos.
Neste artigo, vamos explorar o panorama nacional e mundial dessa cultura, demonstrar quais causas engajam mais doações, a percepção acerca do trabalho de Organizações da Sociedade Civil e outras informações que podem ser muito úteis no seu planejamento de captação de recursos.
Cultura de doação no Brasil
Historicamente, nosso país possui uma tradição de solidariedade diante de situações graves, como as que envolvem desastres naturais, por exemplo. Nos últimos anos, uma cultura de doação foi fortalecida, refletindo um crescente compromisso das empresas e comunidades com causas sociais e ambientais.
Com a pandemia, porém, os números da Pesquisa Doação Brasil 2020, promovida pelo Idis, mostraram que diante da crise econômica, o número geral de doações e voluntariado diminuiu. A desigualdade social e a concentração de renda fazem parte dos desafios para a construção dessa cultura no país.
De acordo com a pesquisa, em comparação a 2015, houve uma queda no percentual de doações entre a população. Em 2020, aproximadamente 66% dos indivíduos haviam feito algum tipo de doação, em contraste com os 77% registrados anteriormente.
Ao analisar especificamente as doações em dinheiro, a proporção diminuiu de 52% para 41%. No que diz respeito às doações destinadas a organizações ou iniciativas socioambientais, a redução foi de 46% para 37%.
Outro desafio é a falta de conhecimento sobre as diferentes formas de doação, enquanto existem várias outras formas de doar, como voluntariado e doação de recursos materiais.
Superar essas dificuldades exigirá promover educação e conscientização sobre a importância de doar, aumentar a transparência organizacional e construir parcerias entre o público, o privado e o terceiro setor para criar uma cultura sustentável e inclusiva.
Cenário internacional de doações
De acordo com o World Giving Index 2022, podemos ficar um pouco mais otimistas acerca da cultura de doação. O estudo feito pela organização britânica Charities Aid Foundation (CAF), representada no Brasil pelo IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, mostrou que após a pandemia, as pessoas estão mais solidárias.
O levantamento apontou que 3 bilhões de pessoas ajudaram alguém que não conheciam, um aumento de aproximadamente meio bilhão em comparação ao período anterior à pandemia.
Em todo o mundo, várias organizações internacionais têm desempenhado um papel importante na promoção da cultura de doação, mobilização de recursos e assistência a áreas afetadas por crises humanitárias e outras emergências, como as causadas pela Guerra na Ucrânia.
Quais são as causas mais sensibilizadoras?
As causas consideradas mais urgentes podem variar dependendo das perspectivas individuais e das circunstâncias atuais. Enquanto o espaço do ESG vem se ampliando no setor privado nos últimos anos, a questão da fome também tem se manifestado com força no debate público.
De acordo com a Pesquisa Doação Brasil 2020, 31% das pessoas que fizeram uma doação naquele ano, consideraram o combate à fome e à pobreza como uma causa importante.
Confira a seguir o quadro com a resposta da pergunta feita no estudo “Quais causas você diria que mais o(a) sensibilizam para uma eventual doação?“.
Não podemos deixar de citar a conservação ambiental e a sustentabilidade, que também tem mostrado relevância no engajamento público.
Com as notícias das mudanças climáticas, as pessoas têm se tornado cada vez mais abertas a compreensão da correlação entre qualidade de vida e uso responsável de recursos naturais.
Qual é a percepção das pessoas sobre as organizações da sociedade civil?
A cultura de doação e as organizações da sociedade civil estão intimamente relacionadas. Isso porque as organizações têm um papel importante na mobilização e canalização de doações e conscientização das pessoas acerca de diferentes causas.
As organizações atuam como uma ponte, conectando aqueles que desejam contribuir com iniciativas que visam mudar a realidade.
No entanto, também é importante observar que as opiniões das pessoas sobre as OSCs nem sempre são consistentes. Alguns indivíduos podem questionar a eficácia e a transparência de seu uso de recursos financeiros.
Casos de corrupção ou escândalos envolvendo algumas organizações também podem afetar a opinião pública.
Em geral, as organizações da sociedade civil são consideradas como importantes agentes de mudança e influência social.
A pesquisa Percepção de brasileiros/as sobre a sociedade civil, encomendada pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE), mostrou que mais da metade da população brasileira (56%) avalia positivamente o trabalho realizado pelas OSCs.
Pandemia como um divisor de águas para a cultura de doação
A crise provocada pela pandemia agravou ainda mais as desigualdades existentes no Brasil e no mundo todo. O impacto global da crise da saúde despertou generosidade entre as pessoas, resultando em um aumento significativo de doações e mobilização de recursos para ajudar os mais afetados.
Assim, a pandemia destacou a importância de uma cultura de doação como resposta urgente às necessidades sociais emergentes.
De 2015 a 2020, o percentual de pessoas no Brasil que acreditam que doar é bom para o doador aumentou significativamente, de 81% para 91% . Ainda segundo a Pesquisa Doação Brasil 2020, mais de 80% dos brasileiros acham que o ato de doar faz diferença.
Além disso, as doações também aumentaram significativamente, passando de 3,25 bilhões em 2019 para 6,5 bilhões em 2020, de acordo com a pesquisa Benchmarking do Investimento Social Corporativo (Bisc). Curiosamente, 88% desse valor são doações corporativas.
Todos esses fatos levaram o Brasil ao 54º lugar no ranking do World Giving Index 2021, representando um avanço de 14 posições em relação a 2018. Esses dados refletem um cenário promissor e indicam que uma cultura de doação está se fortalecendo no país.
Principais motivações para doar
Doar é um ato provocado por uma variedade de motivações, e todos podem encontrar motivos pessoais para participar da cultura de doação.
Contudo, para compreender com profundidade sobre esse tema, os economistas Dean Karlan e Daniel Wood conduziram testes com mensagens pedindo dinheiro a pessoas contando uma história comovente, mencionando a situação de extrema pobreza de quem seria beneficiada.
Enquanto uma parte recebeu a mensagem “ela não conheceu nada além da mais abjeta pobreza em toda sua vida”, outros receberam a mesma história emotiva acrescida de um parágrafo assegurando as “rigorosas metodologias científicas” que demonstravam o impacto da caridade.
O artigo mencionado anteriormente aponta que os pesquisadores descobriram que algumas pessoas que já haviam doado grandes quantias ficaram tão impressionadas com o efeito que voltaram e doaram ainda mais. Mas os pequenos doadores também doaram menos. Aparentemente, a evidência científica os desestimulava.
Esses experimentos demonstraram uma tensão entre evidências e emoção, destacando a importância da abordagem emocional na motivação para doar – que sempre dependerá do público-alvo.
A sensação de fazer parte de algo maior, impactar positivamente a comunidade e acreditar nos valores e na missão da OSC ainda são fatores que motivam as doações.
Compreender e comunicar de forma eficaz esses fundamentos, além de entender estratégias de marketing e buscar apoio científico sobre o tema, são elementos que podem fortalecer as relações entre as organizações e seus doadores, incentivando um maior envolvimento e apoio contínuo.
Perfil do doador brasileiro
Um estudo conduzido pela Noz Pesquisa e Inteligência em parceria com a Trackmob e Pitanga.Mob entre março e maio de 2019, mostrou que no Brasil, apenas 29% das pessoas realizam doações mensais. Na faixa etária acima de 50 anos, 26% costumam doar, em média, mais de R$ 100 mensais; entre os mais jovens, o índice é de 17%.
Dentre as causas mais apoiadas pelos brasileiros estão as que envolvem crianças e jovens (44%); animais domésticos, como gatos e cachorros (32%); causas humanitárias (27%); fome e sem teto (26%); saúde (23%) e educação (19%).
Entre as formas de apoio às causas estão a doação de objetos, roupas e alimentos (68%); doação de dinheiro (45%); trabalho voluntário (41%); participação em bazares ou compra de produtos de organizações (38%); participação em rifas ou bingos (32%); e criação de projetos (10%).
Para traçar um perfil geral da pessoa brasileira que doa, a Fundação Tide Setubal cruzou dados da Pesquisa Doação Brasil realizada em 2015 e em 2020 e chegou às características a seguir:
- Mulher;
- Idade média de 42 anos;
- Tem curso superior;
- Vive nas regiões Nordeste e Sudeste;
- Tem renda familiar superior a quatro salários mínimos;
- Está satisfeita com a própria renda;
- É adepta de alguma religião.
Como podemos observar, a cultura de doação no Brasil é um processo em desenvolvimento, com desafios e oportunidades.
Embora a taxa de doação mensal seja relativamente baixa, há um segmento significativo da população brasileira que se engaja em atividades de doação. A comparação de dados de 2015 e 2020 mostra que as classes mais favorecidas estão mais dispostas a doar.
Como ajudar a impulsionar a cultura de doação
Para estimular uma cultura de doação no Brasil, é preciso superar entraves como a desigualdade social, a falta de credibilidade em organizações sem fins lucrativos e a falta de compreensão sobre as diferentes formas de doação e engajamento social.
A educação e a conscientização sobre a importância da doação, a transparência organizacional e as parcerias entre os setores público, privado e terceiro setor são essenciais para o fortalecimento dessa cultura.
A pandemia da Covid-19 destacou a urgência de novos hábitos, despertando o senso de solidariedade e aumentando as doações de modo geral. Por meio de esforços colaborativos e contínuos, é possível fortalecer e expandir a cultura de doação no Brasil, criando uma sociedade mais unida e comprometida com objetivos sociais e humanitários.
As organizações também podem estabelecer estratégias para divulgar suas causas com base em alguns pilares:
- captação de doações
- relacionamento e engajamento dos doadores
- processamento de pagamentos inteligente
- inteligência de dados para direcionar seus esforços
Com a Trackmob, nós chamamos essa estratégia de Smart Fundraising Machine, já que se trata de uma operação estruturada com foco em um captação de recursos inteligente.
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